Jan van Rijckenborgh
Jan van Rijckenborgh
Jan van Rijckenborgh foi co-fundador e guia espiritual, junto com Catharose de Petri (1902-1990), do Lectorium Rosicrucianum, a Escola Internacional da Rosacruz Áurea.
Rosacruz e gnóstico hermético
Jan van Rijckenborgh nasceu em 1896, em Haarlem (Holanda), sob o nome de Jan Leene. Desde muito jovem, demonstrou um sentido pronunciado de justiça que o conduziu a buscar intensamente a Verdade e o sentido da Vida. A diferença imensa entre a fé eclesial e a prática de vida, que o jovem Jan Leene muitas vezes observou nos teólogos e crentes, distanciou-o da Igreja Reformada a que pertenciam os seus pais.
Encontrou muita motivação nos testemunhos de um pregador reformista, o catedrático A. H. de Hartog (1879-1938). De Hartog baseava-se nas ideias de Jakob Böhme, cujo conceito hermético das duas ordens de natureza, também inspirou Jan van Rijckenborgh e foi determinante na sua orientação espiritual.
Raízes espirituais e encontros decisivos
A busca espiritual empreendida conjuntamente com o seu irmão Zwier Willem Leene (1892-1938), conduziu Jan Leene à secção holandesa da Fraternidade Rosacruz de Max Heindel. Em 1924, ingressou esta associação e em 1927, assumiu a sua direção. No ano de 1924, também celebrou o matrimónio com Johanna Ames, do qual nasceram dois filhos.
Nessa época, os irmãos Leene dedicaram-se ao estudo profundo dos textos de H. P. Blavatsky, Max Heindel, Rudolf Steiner, os Manifestos Rosacruzes, assim como os escritos de Coménio e Paracelso. Estas correntes espirituais constituíram, junto com as obras de Jakob Böhme, as raízes espirituais do seu desenvolvimento futuro.
Na véspera do Natal de 1930, Henriette Stok-Huizer (1902-1990) conheceu os irmãos Leene, com quem se uniu numa peregrinação metódica conjunta. Mais tarde, a senhora Stok-Huizer adoptou o nome espiritual, Catharose de Petri. Em 1935, os três abandonam a Fraternidade Rosacruz de Max Heindel e juntos fundaram em Haarlem, a futura Escola Internacional da Rosacruz Áurea, o Lectorium Rosicrucianum.
No ano de 1935, fundou-se em Düsseldorf, a Federação Internacional da Fraternidade Rosacruz. Pessoas de doze países afiliaram-se nesta Associação, levando a cabo um trabalho espiritual em quarenta Centros.
Em 1938, faleceu Zwier Willem Leene, deixando o seu irmão Jan Leene encarregado de prosseguir o trabalho, junto a Catharose de Petri.
Sobre a sua atitude para com a sua incumbência e os seus motivos, Jan van Rijckenborgh escreveu:
«Levamos a cabo uma peregrinação metódica bem pensada. Não queremos mais morrer e não queremos viver. Já não queremos encontrar-nos em nenhum sítio, em nenhuma esfera desta ordem de natureza… Descobrimos que esta é uma natureza de morte… Por isso, somos obrigados a aprofundar objectivamente e ignorando as autoridades, o Tao da Antiguidade…A investigação demonstrou claramente, que além desta ordem de natureza, existe um Reino Original, um Reino muito exterior à região nirvânica, um Reino que se dissocia fortemente desta natureza e das suas esferas… ».
Nesta citação, observa-se claramente a mensagem gnóstica de Jan van Rijckenborgh, que se tornou um elemento central da sua concreção particular do Ensinamento Rosacruz para o século XX. A orientação inequívoca e o puro ardor com que soube transmitir esta mensagem em inumeráveis alocuções, inspiraram e dinamizaram a todos os seus ouvintes. Mas, acima de tudo, Jan van Rijckenborgh, enfatizou continuamente a importância da acção: «Não é a Filosofia que liberta, mas sim, o Acto».
A Escola Rosacruz, durante e após a 2ª Guerra Mundial
Nos anos da 2ª Guerra Mundial, 1940-1945, a Escola Rosacruz foi encerrada pelas forças de ocupação alemãs nos Países Baixos que proibiram todas as actividades. Não obstante, durante esse tempo, o trabalho da Escola não se deteve nem um segundo, o seu trabalho continuou na clandestinidade. Jan van Rijckenborgh, ao longo desses anos, aprofundou-se no estudo do Corpus Hermeticum (os ensinamentos de Hermes Trismegisto), nos escritos dos maniqueus e outros grupos gnósticos, e estudou a fundo a história do Cátaros. Para além disso, escreveu o livro “Dei Gloria Intacta”, no qual se expressam as bases do Ensinamento gnóstico da Rosacruz para o século XX.
Logo após a 2ª Guerra Mundial, a Escola Rosacruz centra a atenção na nova era, com a firme convicção de que a humanidade inteira seria dominada por uma poderosa mudança atmosférica, na qual todos os homens seriam confrontados com a vocação divina que portam no seu interior.
Em 1946-1951, em Lage Vuursche (Holanda),edificou-se o primeiro Centro de Conferências. Nos anos seguintes, a um ritmo crescente, fundaram-se mais Centros de Conferências na Alemanha, Europa Ocidental e Oriental, e igualmente no Brasil, onde a Escola se arraigou ainda antes da 2ª Guerra Mundial.
A herança dos Cátaros
Jan van Rijckenborgh e Catharose de Petri sentiam-se espiritualmente muito vinculados com a epopeia dos Cátaros.
A partir de 1946, viajaram por várias ocasiões ao Sul de França em busca dos vestígios deixados pelo Catarismo. Em 1956, Jan van Rijckenborgh e Catharose de Petri conheceram Antonin Gadal (1877-1962), que se revelou com o último patriarca dos Cátaros, numa corrente de tradição que se estende ao longo dos séculos.
A associação com o senhor Gadal foi crucial para o desenvolvimento interior de Catharose de Petri e Jan van Rijckenborgh, logo da Escola Espiritual e dos seus alunos, já que este encontro conduziu a uma estreita união com a herança espiritual da Fraternidade dos Cátaros, Ordem a que Antonin Gadal, dedicou toda a sua vida, desvelando a sua vertente mais espiritual e a verdade da sua distorcida e desconhecida história.
Obra literária
Jan van Rijckenborgh redigiu os seus primeiros escritos com o pseudónimo de John Twine. Com a escolha deste pseudónimo expressava que era um homem joanista, um homem que preparava o caminho para o homem crístico. O apelido Twine simboliza os dois aspectos presentes em todo o ser humano: o elemento divino, que anela a sua libertação, e o elemento terrestre, a alma natural. Em 1940, Jan Leene adoptou o nome espiritual Jan van Rijckenborgh.
Na Biblioteca Britânica de Londres, Jan van Rijckenborgh deparou-se com uma obra em versão inglesa de Johann Valentin Andreæ, Reipublicae Christianopolitanæ Descriptio. Em 1939, escreveu um comentário sobre este documento que publicou, junto com a sua tradução do texto para holandês, com o título de Christianopolis. Em seguida, também traduziu para holandês os Manifestos Rosacruzes: Fama Fraternitatis, Confessio Fraternitatis e As Bodas Alquímicas de Cristão Rosacruz. Nestes escritos, descobriu aquilo que o movia: o chamado para uma Reforma global que, antes de tudo, teria como objectivo uma mudança fundamental no próprio homem.
Os cerca de 40 escritos que legou á humanidade, alguns deles redigidos conjuntamente com Catharose de Petri, constituem um amplo tesouro de indicações e ajuda para os que com base no caminho gnóstico, buscam a Verdade e a Libertação espiritual.
Testemunhos autênticos
A maior parte dos seus livros são compostos por guiões das alocuções que eram dirigidas aos alunos do Lectorium Rosicrucianum nos anos 50 e 60 do século passado. Jan van Rijckenborgh utilizou uma linguagem directa e imediata, para a interpretar deve-se considerar o cenário do pós-guerra em que decorreu parte da sua vida. Com termos ilustrativos, por vezes também drásticos, tentou conduzir e despertar uma reacção nos seus ouvintes. Por isso, os seus livros , não devem ser entendidos como um tratado de ciências filosóficas, mas sim como autênticos testemunhos orais. Para além do contexto da época em que foram escritos, neles vibra o fogo imutável da Gnosis.
Balanço da sua vida
Jan van Rijckenborgh trabalhou incansavelmente na expansão mundial do Ensinamento Rosacruz gnóstico e na construção da Escola Espiritual, cuja missão é mostrar ao buscador de hoje um Caminho de elevação espiritual e acompanhá-lo nesse Caminho. Por isso, a denominação Escola Espiritual não é por acaso. Jan van Rijckenborgh nunca se cansou de levar a consciência dos seus ouvintes à verdadeira meta do devir humano: a união da Alma renascida como Espírito original. Na hora da sua morte, em 1968, demarcou-se por um trabalho frutífero e cheio de realização, deixando uma organização forte, viva e em crescimento, que estava perfeitamente preparada para as suas funções.
Catharose de Petri com uma orientação inequívoca para o trabalho gnóstico, manteve e aperfeiçoou a obra espiritual de Jan van Rijckenborgh, até à sua morte em 1990. O Lectorium Rosicrucianum prossegue na actualidade o trabalho empreendido pelos seus fundadores, estando presente nos principais países da Europa, América do Norte e do Sul, Austrália, Nova Zelândia e parte de África.